satisfacaum : aventuras de marina nas terras do norte

:: Saturday, November 09, 2002 ::

sabado. nao vou escrever sobre os dias que deixei de escrever. recebi o cartao de impostos ontem, justo quando era tarde demais para receber o salario integral. la se vai 50% do meu suado dinheirinho para os cofres publicos. recebi meu contra-cheque - o que significa que el pagamiento ja esta na minha conta. 3.670! dos 7 mil e tanto que eu deveria ganhar.... fy-fæn! (fi-faaaaan, significa mais ou menos "puta que pariu" em noruegues!).

por falar em puta que pariu:

hoje a minha chefe, lisette, derrubou uma xicara no chao. o que ela disse
? "ai, caaaaaaaaraaaaaaaalho". quase morro de rir. bom, esta sou eu difundindo a cultura brasileira pelo mundo.

a lisette me disse tambem que a direcao do hotel tah planejando despedir todo mundo da cozinha depois do natal. ou seja, a situacao esta mais precaria do que eu imaginava. ou seja, segunda-feira eu comeco a procurar emprego de novo. vou dar o anders (chefe da cozinha, cara muito legal) como referencia. vou procurar em outros hoteis. talvez loja. talvez eles precisem de mim nas lojas para a supervenda de natal. e a partir da primeira ou segunda semana de dezembro eu posso trabalhar periodo integral porque estarei de ferias. mas olha soh. lah vou eu procurar trabalho de novo.

hoje uma senhora perguntou 5 vezes (para mim, sem contar para lisette e anders) onde estava o ovo cozido. "skal vi ha mer bløt kokte egg?" (vai vir mais ovo cozido?". e eu sempre "ja, bare vent litt, det komer snart" (sim, espera um pouco, logo logo ele vai chegar). na quinta vez eu me apoquentei e disse "bom, senhora, eu nao posso apressar o ovo. seja paciente, ele chega em cerca de tres minutos" (ja vel, fruen, jeg kan ikke skynder egget. vær tålmoldig, det kommer om cirka 5 minutter.)

este episodio serviu para me inspirar. tanta coisa ja me aconteceu nesse hotel, que estou pensando em escrever contos contando. um manifesto. uma campanha. fodam-se as baleias, salvem as garconetes! vou comecar hoje, talvez.

alias, hoje nao. tem uma festa de halloween na SHH (ver legenda) e eu estou no comite de decoracao. vamos comecar a arrumar o salao de festas aas duas da tarde. eu vou vestida de catchup heinz, inspirada pela fantasia do meu amado lipe no carnaval de 2001 (macarronada).

amanha eu volto, com mais informacoes.

para terminar:

- a filha da colega de hidroginastica de minha mae ligou. enquanto eu estava na festa da classe ontem (comico, alias, 18 mulheres, 3 homens, muitos jogos, todo mundo participando. uma delicia! as professoras disseram que nunca foi tao facil dar aulas, que nos fomos uma turma excepcional. que bom! comida a dar com o pau, cada pessoa trouxe um prato tipico. eu levei beijinho de coco - que nao endureceu o suficiente, entao todo mundo teve que comer na xicara - descartavel de cafe - e de colherinha - igualmente descartavel.) . enfim, a tia ligou. fiquei de telefonar hoje, mas acho que vou esperar ate terca e usar o telefone da nina. se a nina ja tiver voltado de viagem....

"don't tell me to relax. stress is the glue that holds me together"

frase que vi na tronsmo hoje enquanto esperava o trykk...

... em homenagem a lena! ;)
:: marina martinelli 4:39 AM [+] ::
...

terca-feira. um dia ocupado. trabalhei nas perguntas do meu projeto. fiz umas perguntas interessantes e outras imbecis, que ainda precisam ser desamarradas. meu pai eh que eh bom de desamarrar perguntas. mas ele nao esta aqui, entao eu vou ter que desamarra-las sozinha. faz parte, ue. crescer eh puxar a linha.

logo cedo fui tomar um earl gray e encontrei fish. fish tem um casal de amigos que precisa de faxineira, 4 horas por semana, paga 100 coroas por hora na lata, sem taxa, sem imposto, eh pertinho, o trabalho nao eh dificil. eu topo. claro. nao estou em posicao de negar trabalho.

passei no escritorio internacional e pedir pra tonie marcar medico pra mim. o nome do medico eh hans jacob lerkerød e eu imagino um polvo enorme de capacete de explorador de caverna. nao sei por que. e nao sei por que a secretaria perguntou sobre o que era a consulta. isso eh pergunta que se faca?

sobre a dor no tornozelo sobre a gripe sobre a insonia sobre uma creca que tem no meu antebraco que nao some de jeito nenhum sobre a infeccao que eu tive ha alguns meses e que eu nao quero que volte sobre a minha dor de ouvido sobre a pele das costas da minha mao que esta realmente ressecada e eu nao sei por que

escreve tudo, sacana.

proxima quinta, pela manha. o medico.

andei ate o teatro nacional maldizendo o vento filho da puta que esta dancando seu charleston sobre oslo depois de ter lambido o rabo do mais profundo iceberg. patetico. tenho pelo menos 12 cm de roupa sobre o meu corpo e me sinto nua no freezer. da dor no olho. estou esperando o 31 em direcao a skøyen para justificar meu nao-voto na embaixada.

eu tentando ficar debaixo do sol. o sol sem adiantar nada, parecendo uma laranja de cera na fruteira da sala

nao cheira,
eh de cera,
nem gosto nao tem,

sentada na beira
daquela fruteira,
nao eh de ninguem

e chega finalmente o 31. tenho tantas roupas que o seth e o guillaume nao me reconheceram na rua. por alguma razao estavam muito interessados no quadro politico brasileiro. eu fui no onibus pensando o que aconteceria se a noruega decidisse declarar guerra ao brasil. eu podia dizer que sou iraniana.

tinha gente na fila. uma moca com o marido e o filho. uma moca sozinha com a filha. as duas cariocas. eu sentei e fiquei lendo um livro sobre a amazonia. a primeira veio pegar a certidao brasileira do filho.

eu fiquei pensando meu deus serah que essa crianca escapou da mania horrenda de franksteinizar nomes que nos temos no brasil? imagina se o nome do pai eh tor o da mae eh deusete e o filho tem que ser torete para o resto da vida. ou deusidor. nao consegui olhar o nome na certidao. fiquei olhando a onca pintada e o macaco-aranha.

a mae (bianca) da menina (alessandra) comeca a fazer seus procedimentos, justificar que nao votou. a primeira volta.

(para a recepcionista, marianne) oi, cea tem uma caneeeeata? e um papeeeeal? (escreve alguma coisa) entao, tem aquie o telefonie lah de casa caso vocea queira se encontrar dje repentje... (entrega o papel pra bianca)

ai, brigada!m! entao, vamo vea sea a gentea sea encontra!m! eua ficoa a maior partea do tempoa em casa!m com a bebea...

eu tambeim...

entao, vamoa ver se a gentje faix alguma coisa!m juntax, neah?

fiquei passada. nao sei por que. pensei que devia pegar o telefone dessas meninas pra dar pra menina de natal que eu conheci na papelaria ha alguns dias. o trio.

a bianca nao queria que a alessandra tivesse passaporte brasileiro. (de brasileira basta eu, essa foi a frase). eu justifiquei meu voto e voltei pra casa.

o vento triplicoi de frio. no luminoso da karl johans diz -3. parece mais frio. vou cozinhar.

jedi freak esta na cozinha e nos conversamos. ele deve estar super solitario, pois comeca a me contar que teve um encontro na noite anterior com um cara que ele conheceu pela internet e que estah nervoso e conta detalhes e diz que ele gosta de homens que sabem fazer coisas, como operarios por exemplo (engracado, porque a nina me disse a mesma coisa ha mais ou menos um mes, ela me disse que ha algo de especial se o homem sabe consertar uma geladeira melhor que ela - e ela sabe!). ficamos assim conversando ate altas horas da tarde.

fui para o quarto, li mais um pouco, dormi. quando acordei tinha um recado da annika aa minha porta.

"oi, tao linda dormindo! fiquei sem coragem de te acordar. tenho uma noticia, mas voce nao vai gostar nem um pouco. te vejo mais tarde? vou tirar uma soneca agora tambem. annika, 17h."

e outro

"nao consegui dormir, vou nadar pra ver se eu paro de comer. estou esfomeada hoje. voce vem depois da casa da nina, neh? beijos da aranha"

fico nervosa. qual eh a noticia? me arrumo, vou pra casa da nina com a suave sensacao de que nao deveria ir pra casa da nina. chego lah. luzes apagadas. interfono assim mesmo. nada. entao nao era sonho. ela esta mesmo viajando. em algum lugar em outro continente. e acho que soh volta em duas semanas (e aih o kåre vai viajar). volto pra casa e leio mais. eu adoro este livro. o loe eh maravilhoso.

a annika chega. ela mudou a passagem e vai voltar pros esteites duas semanas mais cedo do que o planejado. ela estava certa, eu nao gostei da noticia. vou sentir saudades. tudo por causa de um peru. ela vai mais cedo pra passar acao de gracas com a familia.

vamos assistir ally. ficamos assistindo tv ate dormir. mais uma vez. eh engracado como eu me sinto em casa nesta cidade pelo avesso.


:: marina martinelli 1:45 AM [+] ::
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na segunda-feira fui aa ajuda da igreja norueguesa, peguei umas roupas emprestadas e sapatos, tive uma aula sobre com me vestir para o inverno, um mini-trabalho: traduzir um contrato de parceria do ingles pro portugues. bons sinais veem com meus dias. entao depois para casa, para catar garrafas de plastico e (yes) troca-las por dinheiro que eh exatamento o suficiente para comprar um pacote de macarrao que eh exatamente o suficiente para matar a minha fome esta semana ate que o redentor dia dez chegue trazendo o meu salario. lavei roupa tambem, mas nao encontrei o cara bonitinho que tem uma tatuagem na batata da perna. arrumei o quarto e o guarda-roupa. comi sopa. fiz flyers para a festa de halloween no sabado. cortei mais de 200 flyers. assisti "de olhos bem fechados". menos do que eu esperava. menos tudo. menos choque, menos putaria, menos conflito.

nao sei por que, ultimamente tenho pensado muito em mussum. ninguem mais tem falado em mussum. um cara engracado. (( a frase em noruegues fica engracada tambem :)) mussum var faktisk en morsom fyr. ainda nao entendi por que a globo filmou didi subir na mao do cristo e nao fez um especial mussum nunca. e eu lembro do dia que zacarias colocou o abridor de garrafa na boca pra imitar o pato donald e acabou engasgado. dede nao eh muito engracado. mas eh em mussum que eu tenho pensado ultimamente. cacilds. forebis. cachacis. branquinha. pinga. chucrutis.

:: marina martinelli 1:18 AM [+] ::
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sobre domingo

um dia cheio no hotel. e eu, inteligentissima, trabalhando de salto alto. sai de lah e fui procurar uma maquina pra tirar dinheiro. ha! andei metade da cidade. ou nao tinha grana, ou estava fora do ar. coisas que os japoneses das excursoes tipo "escandinavia em 4 dias" causam. fui parar na estacao central (Oslo S) onde finalmente achei um caixa automatico que estava funcionando. meus pes estavam doendo tanto que fiquei por lah mesmo, lendo um dos jornais gratis que este pais tem.

a anne pequena veio me buscar de carro. pegamos a anne siri e fomos dirigindo ate moss. uma delicia. fomos falando portugues, noruegues e ingles, dependendo do topico. elas rindo, eu rindo, o dia lindo.

chegando na cidadezinha, fomos primeiro na casa do pai da anne pequena visitar o irmao cacula dela - 3 meses, a criatura. fofo. depois seguimos para a casa da ingunn (mae da anne pequena). ah! quantos mimos! ela preparando um bando de comida, e eu praticando o meu noruegues com seu novo namorado. muito legal o homi. estava por lah tambem um gatinho, koksie (nao sei se escreve assim, mas significa "carvaozinho" em noruegues).

koksie eh uma coisa. preto preto preto, que nem gato de bruxa, mas carinhoso e manhoso que soh! na semana passada ele teve uma experiencia traumatizante. a ingunn chamou-o pela casa e, nao obtendo resposta, achou que ele estivesse do lado de fora e poderia entrar em casa quando quisesse pela porta de gato que tem no porao. entao ela saiu para viajar por uma semana. quatro dias depois o andreas (irmao da anne) foi la em moss e sentiu um cheiro estranho. subiu, abriu a porta do quarto da ingunn e lah estava koksie, coitado, ha quatro dias sem agua nem comida, e o aposento todo cagado!

agora koksie esta sob um tratamento de muita comida e muito colo.

a comida. eram umas almondegas gigantes num molho nao sei de que, com batatas, cenouras cozidas, pasta de ervilha e tyttebær (nao eh cereja, mas parece, eh bem menor, e os noruegueses gostam de comer molho disso com carne pra dar o contraste). maravilhoso! especialmente com tao boa companhia, vinho tinto, schübert na vitrola e a vista do lago. depois veio a sobremesa : pudim de chocolate (de que, claro, me abstive) com creme de baunilha (que eu, claro, devorei). a anne pequena pulou pro piano e nos presenteou com um belo recital. ela tocou piano classico por muitos anos, mas nao tem o instrumento em oslo e por isso tem que aproveitar quando vem a moss.



conversamos mais, sobre os planos de ingunn de estudar psiquiatria depois de ter praticado clinica geral por vinte anos, sobre as duvidas vocacionais da anne pequena, sobre o dialeto da anne siri. e tudo em noruegues! aprendi um monte de palavras, fiz a anne siri me escrever uma lista de nome de autores noruegueses que sao "obrigatorios", todo mundo riu do tamanho do meu peh... e toma-lh cafe, cha, paes doces cobertos de acucar de confeiteiro... nao pensei que meu estomago esticasse tanto.

a annika tem uma coisa que ela chama "momentos". os "momentos" sao alguns segundos em que voce se sente pleno de felicidade, uma felicidade suave e profunda, e tem certeza de que vai lembrar daquele instante pelo resto da sua vida como referencia de felicidade. eu tive alguns momentos assim no domingo. por exemplo, quando eu estava sentada na espreguicadeira, as annes tocando uma musica juntas ao piano, a ingunn trazendo o cha e os paes... a fogo crepidando na lareira, koksie perseguindo o veloz e ameacador tapete...

fomos pegar o trem de volta. a ingunn nao economizou carinho com nenhuma de nos e insistiu que eu viesse sempre que quisesse. pegamos el tren. infelizmente nao sao todos os trens que teem os super descontos para estudantes, este era um dos caros. tivemos que catar moedas para pagar 82 coroas (41 reais, +/-) por uma viagem de 50 minutos. mas o meu dia valeu cada um desses centavos.

no trem a anne pequena lembrou que tinha esquecido o celular do irmao em moss! aiaiai... resultado - chegando em oslo, eu e ela ficamos esperando o proximo trem, que trazia um menino que trazia o celular (a ingunn teve a ideia, e funcionou). enquanto esperavamos, ficamos conversando sobre felicidade e satisfacao, escrevendo poemas e nos ensinando palavras. eu nao me conformo que 'pute' (pronuncia-se 'puta') seja 'travesseiro'. marcamos aulas todas as quartas - ela me ensina noruegues, eu ensino portugues a ela. vai ser uma delicia.

peguei o 37 e fui pra casa. a annika pediu pra eu subir porque ela estava um pouco triste, com saudades de casa. subi, assistimos tv, conversamos e fomos dormir.


:: marina martinelli 1:43 AM [+] ::
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